segunda-feira, 16 de maio de 2011

"Pega e lê"



Credita-se a Santo Agostinho, um dos sábios da Igreja Católica, a descoberta de que se podia ler sem enunciar as palavras. Até então, os textos eram murmurados, assim como fazem as crianças recém-alfabetizadas. Autor do que pode ser considerado uma das primeiras autobiografias, Confissões, ele passava por uma das inúmeras crises existenciais que o acometeram durante a juventude quando ouviu uma voz interior que lhe dizia: "Pega e lê". E ele leu, então, as Cartas de São Paulo que constam do Novo Testamento. Mais de 1600 anos depois que Santo Agostinho "pegou e leu", milhões de pessoas, apesar dos periódicos atestados de óbito conferidos à literatura e a tudo a ela relacionado, continuam tendo na leitura uma fonte de prazer intelectual e estético, além de um caminho mais seguro para o progresso pessoal e o aperfeiçoamento profissional. Em pleno fulgor da era digital, ler continua essencial e divertido.

A reportagem de VEJA (edição de 18 de maio de 2011) mostra como, contra todas as projeções pessimistas sobre o fim da figura do leitor entre os brasileiros, surgiu no país uma legião de jovens ávidos por leitura. Não em razão dos esforços _ em grande parte, aliás, inexistentes _ da rede de ensino ou do encorajamento eventual dos pais, mas graças à única coisa que verdadeiramente faz um indivíduo adquirir o hábito da leitura e não deixá-lo mais: o prazer. O fenômeno recente de séries como Harry Potter e Crepúsculo, costumeiramente desdenhadas pela crítica, foi o responsável por esse avanço. Em geral, avessa a enfrentar os livros impostos pelo lançamento de mais um volume de suas sagas preferidas. Ler, inesperadamente para os algozes da literatura e tudo a ela relacionado, tornou-se divertido.

VEJA já dedicou várias reportagens à necessidade da difusão da leitura e ao crescimento do mercado editorial no Brasil. Em todas elas, a revista enfatizou que, mais do que divertido, o hábito de ler é fundamental para a aquisição de conhecimento, para aprender a escrever de maneira correta e para adquirir um vocabulário mais preciso e refinado. Essas são as vantagens que os jovens brasileiros de agora também estão descobrindo por meio dos livros. Um dado interessante, ilustrado pela reportagem com base em análises de especialistas, é que, não importa a idade, um leitor pode ir aprimorando seu gosto, de modo a partir de livros despretensiosos e chegar a clássicos que, de certa forma, guardam semelhanças com o ponto de partida. Quem começa com Harry Potter pode chegar a ler O Leopardo, do italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa, ou Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Quem se inicia pelo best-seller A Cabana pode se tornar apreciador de livros como As Ligações Perigosas, do francês Choderlos de Laclos. Nunca é tarde para começar a ler e aprimorar-se culturalmente. Vamos lá, faça como Santo Agostinho: "Pega e lê".

Fonte: Veja (edição 2217 - ano 44 - nº20 - 18 de maio de 2011)

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